segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

EPÍLOGO


EPÍLOGO

As águas, solenes e transversais,
vinham do sul.
Os ventos que as conduziam,
afloravam  em lamentos,
os profundos sofrimentos
originais da insônia
e oriundos da morte.

Na vasta amplidão,
vergada
e pungida
por espigões de espumas.
-correntes de espasmo sideral-
o homem invoca a santa,
o cão, a alcova.

Nos céus, os grandes astros
atônitos e inconscientes,
vomitam
trovões roxos e incandescentes
sobre as faces excomungadas
e as frontes penitentes.

Calma e impávida,
uma andorinha,
(no vai-vem do horizonte),
descreve, no espaço desvairado,
o vôo redivivo
da vida.

E a rosa tresloucada,
em mil pétalas encontrada,
perfuma os ventos
e, as águas esparge de perfume.

SÚPLICA



AO MORRER,
TRAGA-ME A ROSA DOS VENTOS,
QUE DOS ESPINHOS,
FIZ UM CATAVENTO...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O POEMA DO PRETINHO



O pretinho da Tia Chica,
-viúva do viaduto
do trem
que apita
bé, bééé, bé,
e vai e vem,
vem e vai,
vai e vem
da capital,
acorda a Santinha,
que o trem
vem,
vem
da Capital.

Berra o trem
béé, báá, bii...
vai e vem,
vem e vai
com gente branca,
gente preta,
gente branca,
gente preta;
sapato,
manteiga,
biscoito,
gravata
tem, tem
trem
que vai e vem
da capital.

O pretinho da Tia Chica,
(pretinho como a noite sem luar),
espera o trem
que vai e vem,
vem,
vem,
da capital...

Gravata não tem,
biscoito não tem,
sapato não tem,
pão – manteiga,
não tem,
não tem...

Olha o trem,
que vai e vem,
vem
da capital,
com gravata,
biscoito,
sapato,
pão – manteiga,
chocolate,
café,
vem,
vem
o trem
da capital.

O pretinho da Tica Chica,
quando ficar homem,
sem lombrigas
e sem fome,
quer o trem de papai
que vem e vai,
vem
da capital.

AH! Agora sim,
Pretinho da Tia Chica,
espera o trem
que vem,
vem,
vem
da capital,
com papai,
béé, bibi,
uíuí,
com papai,
com papai...

X    X    X    X
Pretinho,
Pretinho,
não acorda a Santinha,
não acorda a santinha,
que o trem
não vem,
não vem
da capital,
...com papai,
com papai...

STA. Maria 1962.